sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

AYATOLLAH, ACHEI A MINHA VOCAÇÃO!


para o Fernando Santos, que anda tresmalhado

Agora tenho a certeza, vou-me converter. Ao islamismo, que foi quem me trouxe a Revelação.
E vou-me oferecer como mártir ao ayatollah Kasem Sedighi, eu sou um poço de possibilidades revolucionárias. Santamente falando. Para tudo. Sou um íman pronto a arrasar uma cidade, um quartel do inimigo, a terraplanar hangares e o orgulho das torres de vigia.
Desde miúdo que sou assim. Desde que o Padre Ventura explicou nas aulas de Moral e Religião que se pecava por pensamentos e omissões e eu me senti pregado a umas omissões felpudas de pendor lúbrico, coitado de mim um franganito inconsciente mas atraído a uma mina de pecados sombreados e aroma acidulado. Já na ginástica desportiva fora admoestado por causa desses pendores secretos, como quando treinando o Cristo nas argolas vi despontar três pêlos públicos num dos vértices da roda que a Rosalina exercitava na trave e fui tomado por uma erecção que calou os galos da vizinhança por uma semana e semeou o padre-nosso entre atletas e professor.
O meu avô, que era pastor evangélico, emprestou-me o martelinho de borracha com que ele curava as gonorreias e deu-me indicações severas quanto à assiduidade do movimento percussivo.
Temo que tenha sido aí que comecei a mentir e que o ilícito se tenha alastrado na minha vida.
O segundo momento de desnorte veio com a leitura dos psicanalistas. Afinal, dizem eles, na caminha do casal  nunca são dois, mas três, quatro, cinco. Ora é o fantasma do pai, ora o do primeiro namorado, ora a imagem que se tornou perene da secretária do dentista do primeiro andar, ora a do marido da melhor amiga. Eu, no primeiro  casamento, fui sempre mais feliz quando pensava na Barbara Streisand. Tinha o fetiche do nariz dela farejando-me longitudinalmente o acontecido que, ‘tá claro, nessa altura, só pensava direito. A minha mulher entregue a momices e denguices e eu naquele movie interior, secreto e ilícito. E sem isso, não me animava, seria como o consecutivo lamento da minha tia Carmélia, que na altura tanta espécie me fazia, o meu marido fenece muito cedo… É isso, habituei-me a que o meu leito fosse a tenda do Kadhafi, com camelos, cabras e avestruzes, pois fui sempre um pecador de vistas largas.
Agora sei para onde vou e já não me apavora ter reconhecido que aquele terramoto dos Açores, em 1980, com mais de mil mortos e seiscentas casas devastadas, tenha sido provocado pelas cartas obscenas que, nessa altura, enderecei à Carolina do Mónaco; afinal, só sabendo a verdade sobre o cedo prevenimos o cedro.
E como tudo o que importa na vida pia é o quanto sublimamos e para onde canalizamos a energia de tanta ilicitude indeclarada, vou-me entregar como mártir ao ayatollah.
Estou pronto para todas as missões.
A loucura de paris que me espere, nas praias de copacabana implantarei o meu farol contra os ímpios, nova iorque que tema o pior. Repararam que já escrevo o nome das cidades em minúsculos, para mim são já o pasto onde a iniquidade rumina o sismo. Já salivo, antevendo os maxilares do sismo no meu rasto de charme e sedução: hei-de ser o fantasma crivado em milhares de clítoris - fora as práticas. Aí serei o diabo à solta, nada me escapará, das adúlteras, às hospedeiras de bordo e moças com sindroma de dawn.
E voltarei como Don Juan a Torremolinos só para me concentrar na Letízia Ortiz, a Letízia sempre me interessou muchíssimo, e aí constituirei a minha primeira brigada de reformados viscosamente tarados. Sabem lá o que é a fúria espanhola vidrada na virilha!
Sempre adorei sexo ilícito, agora será o meu sacrifício.
Ordena-me ayatollah e eu te sedigharei, e assim será feito: que cidade queres tu que eu arrase primeiro com a ponta do meu caduceu?

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