quinta-feira, 14 de julho de 2011

SAUDADE, ou o estado de excepção


Excelentíssimo Presidente do Partido e Primeiro-Ministro de Portugal, dr. Pedro Passos Coelhos:
   trinta e sete anos depois a democracia devia estar digerida, refractada, jugulada, mas como infelizmente nem sempre é o que acontece impõe-se legislarmos, de modo a cortar pela raiz algumas atitudes menos corporativas e que travam o ajustamento do país à sua temperatura axial.
Neste sentido, saudamos daqui a sugestão do candidato à liderança do PS José Seguro quando chama as coisas pelos bois e promete devolver o Partido ao «pomar dos afectos», de onde nunca devia ter saído. O nosso mal foi ao longo dos séculos termos vindo a malbaratar o pinhal de Leiria e outros rincões do nosso afecto luso. De facto, para quê continuar a insistir nas ideias, e múltiplas, que arruinaram ao país, quando afinal podemos obter mais resultados com a corrente dos afectos? O engenheiro José Seguro compreende-nos e só manifestamos estranheza em que continue a posicionar-se na oposição. Oposição a quê, se aquilo que defende é a nossa linha?
Mas, para que não hajam quaisquer dúvidas, sugerimos que se legisle e regulamente, por forma a que não se verifiquem mais desvios éticos como os do Ministro Nuno Crato, ao recrutar para Chefe do seu Gabinete, um socialista encartado, e, o de Tiago Leite, Chefe de Gabinete do Secretário de Estado da Administração Interna, que requereu para seu motorista privado Telmo Correia, que faz parte da actual “Concelhia de Alpiarça do PS”(- imagine-se, por supostamente, por ter dado ouvidos à esposa, mas será tal desculpa?).
Já lavrámos o nosso protesto, que chegou ao conhecimento de Vasco Cunha - Presidente da Comissão Política Distrital do PSD de Santarém – o qual vai ser pressionado por vários militantes para tomar medidas sobre esta situação, posto o desagrado geral, e alguns de nós aventa a urgência em que o caso chegue ao conhecimento de Miguel Relvas, ministro dos Assuntos Parlamentares para uma conclusão definitiva. Porque temos pressa, temos connosco a impaciência do País, que não está para morosidades, e daí que o procuremos sensibilizar para o nosso projecto.
Reunida, a Concelhia Municipal de Santarém deliberou apresentar ao Governo uma série de medidas, que passada a Lei, se tornariam a substância do Futuro e um incremento para uma frondosa Geração Portugal Portugal:
Deixemos que fale a qualidade do nosso projecto e o rigor do elenco das nossas medidas:
«ARTIGO1
Os lugares vagos da Administração Pública, de modo vertical, devem ser integral e inapelavelmente preenchidos pelos membros do Partido ou dos Partidos da Coligação no Poder.
Este é o momento, pois quem ousará trazer mais instabilidade política ao país e trair o acordo com a Troika?
ARTIGO 2
Abra-se um concurso para Arrumadores de Carros, de modo a que também estes não fujam à linha partidária; obstando assim possibilidades de espionagem ou de fuga de informação.
Foi deles que partiu a informação que nos degradou aos olhos da Moody´s. Todos eles têm primos na América.
ARTIGO 3
De modo a não se levantarem suspeitas, todos os membros sem excepção do Partido devem casar com mulheres de outros Partidos políticos; filhas, irmãs ou cunhadas dos seus dirigentes, de preferência. Temos de começar a ser inclusivos.
ARTIGO 4
Admitem-se excepções, se o membro do Partido estiver casado com uma militante do Partido. Contudo, neste caso, o ideal é o sacrifício pelo País e o casal separar-se momentaneamente para a consecução do “trabalho ideológico” que o momento em Portugal exige.
Alargar um pouco o conceito de Família, trazendo ao reduto da Nação um elemento tresmalhado, é o que a História Pátria nos impõe.
ARTIGO 4
O membro do Partido que conquistar a esposa (ou o marido) do membro de outro Partido ficará isento do imposto que recairá este ano sobre o subsídio de natal.
ARTIGO 5
A esposa do militante do Partido que não se inscrever no Partido após 3 meses de casamento deve ser declarada como portadora de Alzheimer.
Os médicos do Partido facultarão as novas certidões.
ARTIGO 6
Deve abrir-se um concurso de heroínas do PSD dispostas a arrebatarem o coração mortiço (vê-se) do candidato José Seguro, uma Padeira de Aljubarrota que lhe estenda a verdadeira pá dos afectos (o que ele procura), recuperando-o para a nossa causa.
ARTIGO 6
O proselitismo será recomendado desde a escola primária e Fernando Pessoa (que defendia que os Partidos Políticos eram “máquinas de reprodução da intolerância das igrejas”) vedado dos programas escolares. Será com vantagem substituído pela História dos Templários.
ARTIGO 7
Os membros dos Partidos da Oposição passarão a ser designados por Ultramarinos, para devolução de uma réstia de sonho, ao mesmo tempo que os despejamos de alguns gramas de realidade.
ARTIGO 8
Será concedida aos membros do Partido a liberdade de escolha em relação ao seu clube de futebol preferido ou ao seu fadista de eleição.
Bom, a fadista Conceição da Imaculada deve ser excluída, por causa do decote.
ARTIGO 9
Os companheiros que vacilarem neste novo rumo devem ser galvanizados pelos militantes que padecerem de convicção, para o que se criarão Células de Reanimação nas Empresas.
ARTIGO 10
Os resultados dos Concursos Públicos deverão ser canalizados para as empresas amigas do Partido, ao mesmo tempo que se apagarão dos dicionários as palavras «nepotismo, corrupção, caudilhismo» e seus sinónimos e derivados para que as novas gerações cresçam purificadas e em boa consciência.
A ocasião é a melhor: repetimos, quem ousará levantar celeumas e faltar ao compromisso com a Troika?
ARTIGO 11
As esposas dos responsáveis dos cargos administrativos de topo (de vereador para cima) só devem ter cabeleireiras, calistas, personal training, motoristas, dentistas, explicadoras de boas maneiras, amigas, cozinheiras e assessoras de imagem que forem do Partido.
ARTIGO 12
Desnacionalizemos os dicionários. Deixemos ao português médio a possibilidade de se assenhorear livremente de um espectro lexical de 1000 palavras. A partir daí a «corrente da língua» passa a ser detida por um naipe de empresas apuradas em concurso e quem quiser alargar o seu leque vocabular terá de comprar um kit.
Parece-nos um verdadeiro petróleo, sr. Primeiro-Ministro.
Esperemos que as nossas medidas propostas ganhem o seu apoio. O País pede, o Partido idem, e o espírito da sua antecessora (que teve sempre razão antes de tempo), a Dra. Ferreira Leite, que pedia que, «excepcionalmente», a «democracia se suspendesse por uns tempos», zumbe em concordância.
O estado de excepção está declarado, só aguardamos o seu consentimento.
Pela Concelhia Municipal de Santarém
(assinatura irreconhecível)

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