quarta-feira, 2 de novembro de 2011

CANÇÃO DO TRINTA E TRÊS

hércules treina para o décimo terceiro trabalho: o referendo

 A Grécia é um trinta e um.
E o trinta e um é que a Grécia com o seu referendo constituirá um dos maiores testes que ao regime democrático (e às suas virtualidades) alguma vez foi colocado.
Se o não ganhar – um não rotundo a ser-lhes “perdoado” metade da dívida em troca de “mais sacrifícios” - a caixa de Pandora das economias estará à solta e nenhum país da CEE perdoará à Grécia o seu efeito dominó.
E com a recessão que aí virá, por causa de um legítimo direito a dizer não, a escolher outro modelo, os países poderosos mais afectados vão começar a denunciar uma reserva mental em relação aos referendos e aos “poderes perversos da democracia”. Uma coisinha do domínio do não-dito, está claro.
E vão manobrar para cozinhar docemente os regulamentos necessários para que os legítimos direitos sejam coarctados, tratados como excepção, inibidos de exercer-se, num retorno às oligarquias nominais
O problema da Grécia é bicudo, porque por um lado não se pode aceitar a chantagem do medo, por outro a democracia vai ser de novo a maior vítima do seu sucesso. O referendo na Grécia vai ser a implosão que o liberalismo económico necessitava para ter as suas Twin Towers morais.
Eles não gostam de acontecimentos imprevisíveis: como é que um mercado aguenta que lhe recusem um perdão da dívida?
  Depois disto, o poder económico vai encontrar terreno favorável para regulamentar a livre expressão e abafar a voz do pintainho à nascença.
A Grécia só deixava ser um trinta e um se a Irlanda, Portugal e outros tivessem a coragem de dizer que iam pelo mesmo caminho, que iam referendar os acordos com as troikas.
Aí era a Europa que teria de mudar de modelo, se não quisesse naufragar. O TUFÃO de Conrad seria então um livro profético.  
Assim isolada, a Grécia não é só um trinta e um, é um trinta e dois.   

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