terça-feira, 31 de janeiro de 2012

DA IMPORTÂNCIA DE SABER NADAR


1
«Joyce e a família estavam vivendo na Suíça, e Jung, que escrevera um texto sobre o Ulysses e portanto sabia muito bem quem era Joyce, tinha ali sua clínica. Joyce então foi vê-lo, para lhe expor o dilema da filha, e disse a Jung: "Aqui estão os textos que ela escreve, e o que ela escreve é o mesmo que eu escrevo", porque ele estava escrevendo o Finnegans Wake,  um texto totalmente psicótico, se o olharmos dessa perspectiva: inteiramente fragmentado, onírico,  atravessado pela impossibilidade de construir com a linguagem outra coisa que não seja a dispersão. Assim, Joyce disse a Jung que sua filha escrevia a mesma coisa que ele, e Jung lhe respondeu: "Mas onde você nada, ela se afoga". É a melhor definição que conheço da distinção entre um artista e... outra coisa, que não vou chamar de outro modo que não esse.»

in Ricardo Piglia., Formas Breves, Companhia das Letras

2
O HOMEM JUNTO AO MAR

Há um homem derrubado junto ao mar.
Não julgues agora que vou descrevê-lo como a um afogado.
É um pobre homem que agoniza na margem,
mas ainda que o tenham arrastado as ondas
e mais não seja que uma frágil trama que respira
uns olhos
as mãos que às apalpadelas
      buscam
             certezas -
ainda que já não lhe sirva de nada
gritar ou ficar mudo
e a onda mais débil
o possa destruir e fundir no seu elemento -,
eu sei que ele está vivo
a todo e comprimento e largura do seu corpo.

Heberto Padilla (tradução minha)

3

«(…)
Sinto que nado adormecido dentro de um tonel de vinho.
Nado com as duas mãos amarradas.»

José Lezama Lima (tradução minha, epígrafe do meu romance, A Maldição de Ondina)

1 comentário:

  1. Olá, Antonio, esse diálogo entre Joyce e Jung abriu ontem minha sessão de análise, lembrei-me dele assim que bati o olho em minha analista. Obrigada. Abraço.

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