sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A MÃO É MAIOR DO QUE A MÃE DELE

está lá, é do boletim metereológico?
A indistinta criatura olha o céu estrelado e boceja. Pensa, ‘tá na hora da deita. E deita-se, no quarto, deixando o livro que lia sobre a mesa na varanda.
Levanta-se com um dilúvio desatado, lamenta-se, merda. E vai à varanda confirmar o naufrágio da antologia de poetas sul-americanos que, sob a batuta de Saul Yurkievich, protesta à chuva. Leva o aquário para dentro, pega no secador da filha e tenta remediar o mal.
Depois com uma pinça separa folha a folha, amaldiçoando a imprudência.
Mas pode-se adivinhar que depois de um céu grávido de luzes, sem a mais esfiapada nuvem, se abata um ciclone? Que loucura é esta?
Abre o livro, e à primeira, a poesia explica:
«A mão de deus é maior do que ele.
O seu enorme contacto faz ganir os astros.
Na obscuridade o silêncio dilacerado testemunha a sua carne decaída.
Lá em baixo, perpétuo, um esplendor defunto – Incessantemente, em movimento  - - Revelação: gaguez celeste.
Encerramento do dia: é ele. - - Propriedade da sua mão, maior do que ele.»
A mão é maior do que a mãe dele. Sempre foi. Por isso é difícil extingui-lo, fogo só se apaga com fogo.
A Blanca Varela foi quem deu a lição, eu fiz o karaoke.

3 comentários:

  1. Quanta sensibilidade...
    É isso que minha alma anseia!
    Estou seguindo aqui, e lhe convido a conhecer o Clube dos Novos autores, segue a gente?

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    Um grande abraço!

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  2. ainda nem cheguei aqui. ando lambendo a olhos seus 53 anos e os GAMBOZINOS.

    beijo.

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