25 de abril, uma festa
PEQUENA FÁBULA CONTADA ÀS MINHA FILHAS
para o João Lucas
Não sei que vos diga
sobre o 25 de Abril.
A vossa avó acordou-me
e anunciou há uma revolução
Acorda. E eu continuei
a dormir.
Sonhei que um rato se
passeava sobre o muro
Do quintal, um roedor
com um monóculo e um dente de ouro.
Lembro-me porque a avó
me despertou de novo
Antes que eu conseguisse
esmagar-lhe a cabeça
Com o martelo do vosso bisavô
funileiro.
Toninho, a Revolução…
Eu resmunguei.
Sabia lá eu o que era
uma revolução, e que nela
Os planetas voltam
afinal à posição de partida.
Ainda não tinha dado o
primeiro beijo,
Ainda não tinha chegado
o meu dia iniciático e final,
E o meu sonho era abandonar
a ginástica
Por incapacidade de
manter a promessa
Do Cristo nas argolas.
O monóculo reconheci-o
depois no Spínola
E no Pinochet, duas
nuvens negras
De muitos vóltios.
Tantos
Que só de pensar nisso
me dá vómitos.
O dente de ouro tenho-o
visto mudar de boca
Como os dentes da
Graia. Infelizmente
Nunca o consegui
agarrar. Julgo,
Minhas filhas, que é
disso de que padecem
Hoje os nossos patrícios:
Anda um
rato com um dente de ouro à solta,
E rói, rói, rói mais
que o do garrote
Do poema do Assis
Pacheco.
Como ele rói e tudo
converte em escória!
E sinto-me culpado de não
ter feito o suficiente
para lhe esmagar o
toutiço no devido tempo.
Da outra vez que houver
um 25 de Abril,
Se eu vos quiser
acordar, não acordem por favor.
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