quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 de abril, uma festa

PEQUENA FÁBULA CONTADA ÀS MINHA FILHAS
                                                para o João Lucas
Não sei que vos diga sobre o 25 de Abril.
A vossa avó acordou-me e anunciou há uma revolução
Acorda. E eu continuei a dormir.
Sonhei que um rato se passeava sobre o muro
Do quintal, um roedor com um monóculo e um dente de ouro.
Lembro-me porque a avó me despertou de novo
Antes que eu conseguisse esmagar-lhe a cabeça
Com o martelo do vosso bisavô funileiro.
Toninho, a Revolução… Eu resmunguei.
Sabia lá eu o que era uma revolução, e que nela
Os planetas voltam afinal à posição de partida.
Ainda não tinha dado o primeiro beijo,
Ainda não tinha chegado o meu dia iniciático e final,
E o meu sonho era abandonar a ginástica
Por incapacidade de manter a promessa
Do Cristo nas argolas.
O monóculo reconheci-o depois no Spínola
E no Pinochet, duas nuvens negras
De muitos vóltios. Tantos
Que só de pensar nisso me dá vómitos.
O dente de ouro tenho-o visto mudar de boca
Como os dentes da Graia. Infelizmente
Nunca o consegui agarrar. Julgo,
Minhas filhas, que é disso de que padecem
Hoje os nossos patrícios:
Anda um rato com um dente de ouro à solta,                                                        
E rói, rói, rói mais que o do garrote
Do poema do Assis Pacheco.
Como ele rói e tudo converte em escória!
E sinto-me culpado de não ter feito o suficiente
para lhe esmagar o toutiço no devido tempo.
Da outra vez que houver um 25 de Abril,
Se eu vos quiser acordar, não acordem por favor.

Sem comentários:

Enviar um comentário