domingo, 16 de setembro de 2012

CANÇÃO PARA UM BIFE MEU AMIGO

                         a Jade, ainda estupefacta, a meditar nas letras de canções que o pai fez

Entreguei algumas letras para canções ao músico moçambicano Chico António - vamos ver o que dará esta nossa colaboração.


O CORAÇÃO PISA UMA MINA

Não te deixes desaparecer.
Sempre que te vejo
o coração pisa uma mina
e não há como esquecer
 
que fui seixo e relampejo 
e fio de sangue na tua sina
que os frutos me deixam
louco, depois de te ver.
                                                                    
Mão que abandonaste
esbraseia o mar num calafrio
lábios no teu guindaste
ganharam mau-feitio.
 
Não te deixes desaparecer,
o coração se pisa a mina
não há como esquecer.

 

CANÇÃO PARA UM BIFE MEU AMIGO
 
Nunca o sol me ladrou
desde que nasci.
Importas-te? O preto fica pra ti,
eu sou da cor que deus me dou,
 
E tu és da cor que deus te deu.
Não eu, mas a luz
que nos põe bonitos,
dois valdevinos em Vera Cruz.
 
Vem, vem ter comigo,
essa dor que trazes contigo,
é a sede que nos comeu.
Vem, vem ter comigo.
a trilha que agora sigo
veio da ferida que nos fendeu.
 
Mas digo e sei que mariola
não tem cor, quem pisa o pé
escolhe com  quem não bebe capilé,
e como família só tem a mola -
 
E mais: nunca o sol me ladrou
desde que nasci.
Importas-te? O preto fica pra ti,
eu sou da cor que deus me dou!
 
Não esperes, vem, vem comigo cantar
esta canção que uma gaivota
trouxe do mar
onde quem tchova
 
é o vento, o salpico e a lua
e o gosto de estar junto
em trabalho e na gazua
entre amigos, sem o assunto

que antes fez tanta treva. Este
é um atalho sem má erva
e que nos livra da maldita
que só tem memória para a chita

a que de tanto ressentir à pressa salta,
à toa. Antes o leão,
molengo, até um pouco à balda,
que vai no seu ritmo e em compaixão
 
mata. Pois cínicos não somos,
nem tu és, meu irmão. Cínico
é quem de mariola
já só pensa na mola. Por isso,
  
te digo, nunca o sol me ladrou
Desde que nasci.
Importas-te, o preto fica pra ti,
eu sou da cor que deus me dou
 
Vem é comigo apanhar sol
à Costa do Sol, beber uma beer
e olhar a luz que deus nos deu
e que nos faz iguais ser.
 
Vem, vem ter comigo,
essa dor que trazes contigo,
é a sede que nos comeu.
Vem, vem ter comigo.
a trilha que agora sigo
veio da ferida que nos fendeu.



Sinto-me um bocado idiota depois de ter revisto o filme sobre o Cole Porter, com Kevin Kline no papel do compositor, e de ter ficado estarrecido com a qualidade daquelas letras, absolutamente estonteantes. Mas enfim, foram as primeiras... há-de a coisa melhorar.

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