sexta-feira, 3 de maio de 2013

A REALIDADE É O CÃO QUE MORDE A CAUDA

                                      Bruno Bourel, roubado à minha amiga Lourdes Sendas
O sr. António convidou-me para participar num filme. Fiquei feliz. Fui ao casting. Mas cheguei lá e deram-me o papel da rapariga que está ao balcão no bar, a servir bêbados e gente porca. Nunca me senti tão humilhada…” - recrimina-me a empregada da tasca a que vou habitualmente, onde é tão despachada a servir bêbados e gente porca.
E não é que tem razão? Demos-lhe um plinto para um sonho onde, afinal, tudo se repete como na comezinha, triste, sórdida realidade. Como lhe explicar que a vida às vezes se diverte com estas ironias e que talvez não seja culpado do papel que lhe deram?
Ai, António, António, não serves para nada…
- Dá-me lá uma!
- Esta vai ter de pagar, sr. António.
Não me esquecer de fazer um conto. Dedico-lho, ou achará que me divirto a retratar o seu sétimo círculo do inferno?
 


O entrelaçado, a dissertação:
O gato lambe o rabo do cão
E o cão julga que atrás de si cantam rouxinóis.



 Uma estereofonia, há anos que não ouvia a palavra. Como as palavras vão e vêm e vaporizam-se, afogadas na onda que se segue. Queiramos ou não a língua percute no seu tambor as sensibilidades epocais, a cada momento novos desenhos para o ritmo. Micro-variações na macro-estrutura.

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