quinta-feira, 31 de outubro de 2013

DIFÍCIL É VOAR

                                                            WHY WHY, by Alice W R



Difícil é voar e não depende do balanço
mas do lastro de ar que irrejeitável

nos erga a prumo, como se deus
- uma garrafa de oxigénio entupida de génios

verdes – nos tivesse concedido uma audição.
Sequer depende da atracção do firmamento

já que tantas daquelas luzes são urnas.
Difícil é voar porque uma intrincada porção

de carne entope como betão os poros
que abriam ao vento o corpo – e dele, galáxia

natal, faziam via rápida. E quem arrisca
agora a pele se, inumana, a ascenção

inflama em todo o metacarpo o ferro?
Não há cão crestado que não queira sair

do sol. Contudo, é vero, o carvão sobe
descendo em si mesmo, até ao brilho

da gema, e não se desvalida a gravidade
à primeira oportunidade, se até as ossadas

sob a neves s’abstraem da mensuração
da discórdia e, confundidas no branco,

ganham asas - estrelas em floco?
Só o homem, amassado pelas wastes lands

que no coração laminou, não se inspira
a sair de si próprio e abraça-se às moscas,

pubescentes e gris, do realismo para furtar-
-se às transformações silenciosas

que tumultuam as marés ou
levam o pigmeu à flexão do medo,

ebriedade com que mata o elefante,
aparentando-se finalmente ao homem.

 
nota:
"galáxia natal" é de Wallace Stevens

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