quinta-feira, 28 de novembro de 2013

UM POEMA DE RADOVAN IVSIC E CINCO VARIAÇÕES

miró, que fez várias litografias para Radovan
 
 

OS PASSOS DA MORTE



Nos vagares de um vento lazarento

pelas mais densas florestas

betumadas as raízes numa mão imensa

que pulsa no coração da relva sombria

ao redor da pedra

no topo da surdez dos abismos

na noite anoitecida

pelas orações ensurdecedoras das conchas

no vento

no vento

a

a

v

e

desfolhou-se.



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Tudo em redor luzia nas mesmas trevas

Que levaram o teu coração

A achar um pássaro na gaiola.



Sonhemos então,

Nascidos de um riso nas lágrimas.



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Ah, com as tréguas do tempo

posso eu bem,

quando pacifica e as mãos em concha

acomodam o bule.

Já não sei que lhe faça

quando tagarela como um insone.
 

Ah, viver como animais

e escrever como homens,

isso é que era, ver como

na avalanche da minha infância

a pedra do e rolou

e degenerou num a,

isso é que era.



Mas o apelo à eficácia, esse

entalhe dos desertos

que sósializa a vida,

não deixa

que se vulcanize a alegria.



E que eu faço eu ao tempo

que não se cala?



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A secura daquele beijo

foi devorado até ao osso.



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Baralhou todos os joelhos da sua vida.

ou foi por eles baralhado?

É quase um prodígio ficar tão à nora,

do lado de fora de joelhos

que como preciosos tentáculos o agarraram à vida

em álgidas noites de inverno.

Mas qual deles calou mais fundo em si,

escondido nos eflúvios?

O vento evade-lhe os nomes

e já os pormenores são trevas.



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O vento folheou a ave

até ao fim

na sua primeira lição de geografia.

Depois ficou transparente

a tal ponto

que a ave voltou ao ovo.


 
 

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